"Restava-me o amparo dos livros" - José Jorge Letria

quarta-feira, 13 de março de 2013

1.º Parágrafo - O Prisioneiro do Céu - Carlos Ruiz Záfon


"Sempre soube que um dia regressaria a estas ruas para contar a história de um homem que perdeu a alma e o nome, por entre as sombras daquela Barcelona submersa no turvo sono de um tempo de cinzas e de silêncio. São páginas escritas a fogo, escoradas na cidade dos malditos, palavras gravadas na memória do que regressou dos mortos com uma promessa cravada no coração e arrastando o peso de uma maldição. O pano sobe, o público faz silêncio e, antes de a sombra que paira sobre o seu destino fazer a sua aparição, um elenco de espíritos brancos entra em cena, de comédia nos lábios e com a bendita inocência de quem, tendo o terceiro acto por derradeiro, nos vem narrar um conto de Natal, ignorando que, ao virar a última página, a tinta do seu esforço o arrastará lenta e inexoravelmente para o coração das trevas.

JULIÁN CARAX. O Prisioneiro do Céu
Éditions de la Lumière, Paris, 1992"

in O Prisioneiro do Céu  de Carlos Ruiz Záfon página 11

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