"Restava-me o amparo dos livros" - José Jorge Letria

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Encontro


Chegou o dia ... O dia que pensava que nunca iria chegar.
O sol brilhava logo pela manhã, parecia que tudo estava a meu favor. O meu cabelo, o meu sorriso, o meu olhar, a minha expressão, o meu andar, a minha pele... tudo perfeito. Era o dia. O tão aguardado dia.
Estava nervosa, mas até isso conseguia controlar. Não sabia o que me esperava e como tudo poderia acabar, no entanto, estava confiante de que não sairia magoada.
Esperei por este momento, horas, dias, meses, anos. Já não suportava mais esta espera, tudo o que vivia me destruia pois não podia ter aquilo que tanto desejava. E naquele dia o que pretendia iria acontecer. Planeei tudo sem falhar num único pormenor. Pelo menos era isso que eu pensava.
Saí de casa, bonita, elegante, perfeita, tudo aquilo que nunca tinha sentido que era, os homens olhavam para mim e, sem dizer uma única palavra, transmitindo apenas pela expressão, deliciavam-se com o meu andar. Pareceu-me estranho, todos os dias à mesma hora passava por aquela rua, por aqueles homens e nunca me tinha sentido tão observada. Sempre me senti só, fraca, desinteressante. E naquele dia tudo se tinha alterado. Mas porquê naquele dia? O tão aguardado dia?
Tinha esperado por não deixar ninguém que sentiria a minha falta, família... já não tinha, amores... nunca os tive, amigos só me magoaram... Era o dia em que só dependeria da minha vida.
Caminhei até à praia, calma, como todos os dias o fazia, mas daquela vez não chorei, pelo contrário, sorri. Era o momento ideal! Descalcei as minhas sandálias cremes de salto alto, coloquei os meus pequenos pés na areia, e caminhei até sentir as primeiras gotas de mar... Era o meu maior medo.
Mas uma força maior que a do medo me puxava para dentro de água. Era a força que sempre desejei ter, aquela que me levaria ao meu tão esperado dia. Quando dei por mim o mar já tocava na minha cintura fina, era o momento ideal.
No momento em que me debrucei e fiz com que aquela água salgada me tocasse no peito, senti uma mão forte que me agarrou, me abraçou e que chorava sem eu entender porquê.
Levantando-me levemente e com segurança caminhou para a areia, continuando a chorar. Deitou-me na areia, beijou-me a testa, sorriu-me e ainda com algumas lágrimas,disse "Eu volto" e partiu.
Dias e dias voltei aquela praia e vi o mar de longe. Tenho medo novamente, não entendo... Quem era aquele homem que não me deixou terminar a minha história, a minha vida? Procuro aquele olhar profundo e triste, mas ao mesmo tempo carinhoso e real. Tentei aproximar-me mais do mar até senti-lo nos meus pés, mas ele não reaparece... fiquei só novamente.
Hoje faz um mês desde que o vi. Durante a noite viajei nos meus sonhos à procura daquele homem misterioso e belo, mas percebi que não valia a pena esperar, que não me fazia bem voltar a pensar nele. Desisti. Hoje voltei ao meu serviço, não via os meus colegas de trabalho à imenso tempo, também nunca tinha prestado atenção a nenhum deles, pois pretendia não voltar.
Por incrível que pareça mudei a minha atitude, cumprimentei um a um, sorri com sorrisos sinceros, olhei finalmente com atenção até que por instantes pensei que estaria a ter alucinações, mas era ele, o meu homem misterioso, que sorriu-me, agora sem lágrimas, e com um gesto delicado estendeu a mão e disse: "Esperei todas as horas, dias, meses, anos, por este momento .O momento em que finalmente os teus olhos me vissem e o teu sorriso me sorrisse".

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